Semana passada, estive em Viena, Áustria, para uma conferência. Viena esse ano tomou o título de melhor cidade para se viver de Melbourne, na Austrália. Não posso opinar sobre viver lá já que passei pouco mais de uma semana, mas de fato me pareceu fazer jus ao título. É uma cidade extremamente tranquila, com pouco trânsito, um sistema de transporte público excepcional, arquitetura belíssima (ao menos no centro histórico), fácil acesso a arte e cultura e um sistema de habitação social que garante baixos custos de moradia para a maior parte da população (que eu desconhecia e talvez escreva mais a respeito no futuro).
O que me deixou pensando e me motivou a escrever essas meias palavras foram os parques. Viena foi uma viagem atípica para mim. Tirando a parte de trabalho por conta da conferência, eu não me senti impelido a ir a museus e ver as atrações turísticas. Ficar na cidade já era um passeio excelente e nisso acabei passando tempo em parques, por vezes apenas sentado aproveitando o sol. Pois Viena não é uma cidade excessivamente verde. Há inúmeras ruas e cantos onde não há sequer uma árvore, o espaço indisponível nas ruas estreitas herdadas de seu passado medieval. Mas a cidade tem muitos parques, de diversos tamanhos, com muita área verde, lagos, patos. E são áreas que fazem toda a diferença no ar da cidade, figurada e literalmente.
Atualmente moro em Brisbane, outro bom exemplo. Uma das coisas que sempre me chamou a atenção aqui é a quantidade de parques e até mesmo de árvores em avenidas e ruas. Parece que cada conjunto de quarteirões tem seu próprio parque - há um atravessando a rua de casa. E nos fins de semana se tornam ponto de encontro de gente que vai praticar esportes, fazer um churrasco, entre outras atividades.
O ponto a que quero chegar, e o motivo que fiquei pensando a respeito, é por que no Brasil, ao menos no que conheço do Sudeste, isso é tão incomum? Veja minha cidade natal, São Lourenço, no sul de Minas. É uma cidade pequena, mas famosa pelo seu parque onde se encontram as águas minerais que levam o nome da cidade. O parque é privatizado. É a única área verde na cidade de 45 mil habitantes. Mas, por ser privada e ponto turístico por conta de suas águas, requer pagamento para entrada. É um parque excelente, uma ampla área verde, mas que não é aberta à população sem que esta pague. Por que nos preocupamos tão pouco em fornecer áreas verdes à população? Certamente não é somente em nome de algum "progresso" abstrato, visto que São Lourenço é uma cidade pequena e que sequer tem área para crescer. Por que não garantir algumas áreas verdes públicas?
Eu acredito que talvez sejam prioridades equivocadas, tanto da classe política quanto da população. Talvez não consideremos, no Brasil, que essas áreas sejam importantes. Mas são. Há estudos que mostram que a presença de áreas verdes têm impacto positivo na saúde da população, ajudando a combater até obesidade, contribuem para redução da temperatura, com potencial para aliviar aumentos causados pelo aquecimento global e até contribuem para a valorização imobiliária.
Sei que o Brasil tem inúmeros problemas mais urgentes, mas áreas verdes melhoram a qualidade de vida de toda a população. E no fim, o que qualquer um quer, para si e como nação, é melhor qualidade de vida. Lembro anos atrás ter visto uma reportagem sobre umas senhoras que transformaram um beco escuro e perigoso em um parque e horta comunitários, reclamando novamente o espaço para a comunidade. Pense no que aconteceria se muitos desses lugares feios e abandonados, às vezes foco de criminalidade, se tornassem belos jardins? Se o lixo se tornasse flores?